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Conto "JAMILE" - A Marcha das Efêmeras

Leia na íntegra o conto inicial do livro A Marcha das Efêmeras - autora Flor, Priscila (euzinha!)

 

Jamile fuma encostada no poste e atenta ao relógio do celular. Será uma noite intensa, pois as provas finais se aproximam. As encrenqueiras das salas seis, oito e dezenove planejam uma confusão danada com uma tipa que vem dando canseira. E ela está cansada dessas picuinhas. Só queria estudar direitinho, voltar pra casa e dormir tranquilamente.

Jamile joga a bituca no chão, pisa com a ponta do pé esquerdo e recomeça a caminhada em volta do quarteirão. Em breve, os portões da escola serão abertos. Ela detesta esperar, por isso contorna a quadra andando. Os inúmeros reflexos nos muros pichados, cartazes de shows e leituras de tarô avisam que o “corre” começou. Trechos musicais ecoam das janelas dos carros por alguns segundos. Motoboys costuram pelo trânsito e disputam uma competição imaginária. Ela roça os dedos nos portões e nos postes como as crianças gostam de brincar. Mas, ela já não é criança há um longo tempo. Parece desejar que alguém segure as suas mãos e aconchegue seu corpo subitamente friorento num abraço.

“Estou cansada”, afirma para si. Uma brisa melancólica a atravessa sem aviso. Arrepia os pelos de seus braços e nuca.

“É o frio”, pensa alto. No entanto, a noite ostenta o título de mais quente dos últimos três meses. Controla a repentina vontade de coçar os olhos. Orgulha-se do fino delineado que destaca seu olhar de mel.

Conjunções e interjeições atiçam os pensamentos, pois será um dos assuntos estudados na escola. Jamile quer entender esse troço. Está prestes a terminar o terceiro ano e logo tentará a sorte em um vestibular.

“Quem sabe dá certo...”, repete para si de tempos em tempos. Quer ser jornalista. Tem habilidade com as palavras. Seus sentimentos são explanados em um diário que guarda debaixo da cama. As primeiras aspirações, paixonites e travessuras estão confidenciadas em verso e prosa. Em algumas páginas rascunhou planos de viagem solo, os nomes dos futuros cinco filhos e a lista de séries para maratonar.

Era a intuição de Jamile...

Lastimosos corações se queixam a cada instante, cada um à sua maneira. Alguns escrevem. Outros cantam. Alguns se fecham em casulos de metal. Outros comem compulsivamente. Muitos bebem e se drogam. Porém, os lastimosos corações realmente perigosos são os que matam. Matam alegando amor. Amores passados que petrificam e ensanguentam o presente.

Novamente diante dos portões da escola, que serão abertos em dois ou três minutos, Jamile calcula que dá para fumar mais um cigarro. Encostada no muro da escola, ela estremece e o cigarro escapa entre os dedos.

“Que diacho!”

... Avisando o tempo todo.

O ex-namorado invade a calçada com o carro e esmaga a jovem contra o muro. Ela perde a vida imediatamente.

Ele responde em liberdade. Matou por amor, não é?

A M O R.



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Livro: A Marcha das Efêmeras - 2ª Edição (2022)

Edição da autora - 56 páginas

ISBN: 978-65-00-16627-9

Capa: Senegambia

Selo: Aflore: produção literária autônoma

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© 2025 por Flor, Priscila / Wix.com

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