A agonia de Brel (ou tentativas de inventar um término) - poema de Flor, Priscila
- Flor Priscila
- 24 de mar. de 2024
- 1 min de leitura

Já terá ido embora quando eu abrir meus olhos,
Eu sei que sim,
Estará farto do meu sono,
do cheiro, da estampa floral do lençol,
Terá deixado brioches duros na mesa,
folhetos de um mercado qualquer,
alguns bombons amassados,
“Les bonbons” de Jacques Brel repetidas vezes
no micro system,
acertando meu peito como balas de verdade.
Terá se libertado da minha bagunça,
Eu, corpo inteiro, objeto, matéria, alma velha,
Você, criatura barbada, coisa, vulto, aparição,
Cada quadro já terá sua versão da peça
em menos de meia hora de separação.
É noite afinal, vamos logo,
Amanhã sairá à francesa
como qualquer boêmio,
Como você diz? Bon vivant,
Eu ficarei nesse apê medíocre
com farelo de bombons amargos,
Um arzinho esnobe pelo ambiente,
Belas louças sujas na pia,
Brel e eu em agonia.
Flor, Priscila
Poema do livro "Tentativas de Leveza" disponível na lojinha do site.
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